Trata-se de um gênero alegórico no qual as personagens são seres inanimados, objetos ou até partes do corpo humano. Deste tipo de texto também se deduz um ensinamento de vida, por meio de situações semelhantes às reais.
O apólogo, com o uso dos exemplos, tem o objetivo de atingir os conceitos humanos, para modificá-los, levando a uma mudança de comportamento, de ordem moral e social.
Fonte:https://www.estudopratico.com.br/fabula-parabola-e-apologo/
Exemplo:
A xícara e o bule
Após o café da tarde, sobre a mesa da varanda, a Xícara
disse para o velho Bule:
— Ah... eu sou a mais bela peça da copa!
A qual respondeu o Bule:
— Tu? Ora essa!
— Sim! Sou a mais bela peça, e a mais importante também! —
retrucou a xícara indignada.
— É mesmo? — perguntou o Bule, com ironia.
— Podes rir, bule velho! — disse a Xícara, fechando a cara.
— Ora, não me leve a mal. Tu sabes que eu gosto muito de ti
— disse amigavelmente o Bule cheio de chá.
Mas dona Xícara, ignorando o senhor Bule, continuou a
discorrer amorosamente sobre as suas qualidades admiráveis:
— Pois então. É a mim que os senhores levam à boca, todos os
dias, e me cobrem de beijos enquanto bebem o chá. Sou feita de porcelana
delicada, com belas florzinhas pintadas de dourado, que refletem a luz e
brilham como num sonho. Não é qualquer um da casa que pode me tocar.
O Bule, muito sensato, tentou transmitir uma lição:
— Mas, minha amiga, o que realmente importa é o nosso
destino. O que disseste sobre tuas florzinhas é somente vaidade, mas ir à boca
dos senhores é o teu dever. E sou eu que fervo a água e preparo o chá no meu
interior, o qual é servido por ti. Tal é o meu destino. Tu percebes que nós
dois, juntos, temos um sentido na vida?
Dona Xícara riu-se, e disse com desprezo:
— Oh, sim! Então não sou diferente dos copos de vidro
grosseiro que as crianças usam para beber? Escuta, filósofo, serei franca
contigo: tu tens inveja...
— Inveja? — perguntou o Bule.
— Sim! — respondeu a Xícara — pois eu estou sempre cheirosa
e doce, e tu tens cheiro de bule velho e borra de chá. Lavam-me cuidadosamente,
e guardam-me no armário de vidro, junto com as louças finas e os cristais, para
embelezar a casa; enquanto tu és lavado com palha de aço e te escondem dentro
da pia, para que não te vejam. Sou estimada, e quanto mais velha eu me torno,
mais valiosa fico. E tu? És velho, manchado, cheio de amassadinhos, e és feito
de metal ordinário...
O Bule ia responder alguma coisa, porém desistiu. Como
poderia argumentar com uma xícara vaidosa e cabeçuda?
Nesse momento o gato da casa, inesperadamente, pulou em cima
da mesa da varanda tentando caçar um besouro. O gato foi tão rápido e
desastrado que nem escutou os gritos do senhor Bule e da dona Xícara:
— Cuidado!
Mas era tarde demais, e os dois caíram no chão. O velho
Bule, que tinha uma base pesada, caiu e rodou como um pião, ficando em pé
quando parou. E a bela Xícara, pobrezinha!, espatifou-se nas lajes da varanda.
Uma lágrima de chá deslizou suavemente pela fronte do senhor
Bule, enquanto observava a pequena luz de vida que aos poucos desaparecia dos
caquinhos de porcelana.
— Minha amiga — disse o Bule, entristecido — escarneceste
dos meus amassadinhos. Pois são as marcas da experiência, dos muitos tombos que
levei na vida...
E a Xícara, definhando, respondeu num fio de voz:
— Sem essa, convencido! Se não fosse eu, tu não terias a
oportunidade de ficar aí, fazendo pose de sábio!...
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